A fragilidade do atual sistema de saúde brasileiro foi o tema da primeira mesa técnica da sexta, dia 22, segundo dia do III Encontro Brasileiro de Serviços de Cuidados Paliativos. O tema “Panorama da sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro” foi debatido pelos médicos Ana Maria Malik, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Daniel Forte, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e responsável pelo serviço de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês.
Ana Maria apresentou as dificuldades que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta. “Ele custa caro para o país, embora seja um dos mais baratos em termos per capita. Além disso, não atende todo mundo e quem precisa dele não está satisfeito com a qualidade”, disse.
O envelhecimento da população traz ainda um outro desafio, que é o das doenças crônicas. “Essa condição tende a aumentar com a idade, embora não seja exclusiva dos idosos. Basta pensarmos que muitas pessoas vítimas da violência urbana, por exemplo, vivem com problemas crônicos”. Outro aspecto a ser considerado é a diferença na qualidade de vida e nos recursos de saúde de acordo com o local onde a pessoa vive – os grandes centros tendem a ter maior taxa de envelhecimento devido à melhora de condições de saúde.
Em sua apresentação, o médico Daniel Forte corroborou com a ideia da desigualdade do sistema pelo país e reforçou como a distribuição da verba federal é muito mais focada na atenção ambulatorial e hospitalar do que na primária ou profilática e terapêutica. Citando dados publicados em 2007 numa série especial do periódico The Lancet sobre a saúde no Brasil, Forte destacou que mais de 52% dos recursos ficam para atenção ambulatorial e hospital, 14,3% para primária e 9,7% para profilática.
Forte citou ainda um estudo brasileiro que mostra que dos pacientes intubados na UTI, 25% deles têm mais de 75 anos. “A distanásia é cara, afeta quem recebe o tratamento, quem cuida, a família e a sociedade como um todo, que paga muito por isso. Mas a distanásia tem uma forte solução, que é o cuidado paliativo”, afirmou o médico.
Ana Maria também defende que o sistema deve investir não apenas em procedimentos isolados e, muitas vezes, inapropriados, que têm um alto custo, mas na relação entre as equipes de saúde e as pessoas sob seus cuidados. “O verbo do século XXI na saúde deve ser cuidar”, afirmou. Isso significa deixar de lado a relação “médico-paciente” e dar início à relação “médico-pessoa sob cuidado”.
Para que o profissional de saúde seja capaz de prestar cuidados paliativos, ele precisa, em primeiro lugar, estudar, conforme ressaltou Forte. “Ninguém aprende CP por boa intenção”. Ele enfatizou que os serviços ainda são poucos, mas têm crescido. Segundo levantamento ainda sendo compilado pela ANCP, há atualmente 127 equipes de cuidados paliativos no Brasil, a maioria na região Sudeste. Em comparação, nos Estados Unidos, o médico afirma que a estimativa é de que haja 2.500 equipes.
Além dos serviços escassos, o médico diz que ainda falta uma compreensão abrangente e correta do que é cuidado paliativo. “Não tratamos apenas doenças terminais ou incuráveis, e a Organização Mundial da Saúde ressalta isso. Cuidamos de pacientes com doenças que ameaçam a vida. Por isso, todo paciente em UTI, por exemplo, têm indicação de cuidados paliativos, porque sofrem e têm dor”, ressaltou.
O médico David Braga Junior, do Grupo Mais Saúde fez o encerramento da sessão, ressaltando a necessidade de uma melhor organização do sistema de saúde, aumentando investimentos no cuidar de maneira ampla – que abrange os aspectos físico, psíquico, somático e espiritual.
Confira o material apresentado pelos palestrantes na mesa técnica
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