Na sexta à tarde, dez grupos formados por representantes de dezenas de serviços de saúde de diversos estados do Brasil apresentaram o resultado de suas reflexões e discussões acerca de temas importantes no contexto da bioética e dos cuidados paliativos. Entre os profissionais, a maior parte era de enfermeiros, no entanto, havia pessoas das mais diversas formações.
Os temas apresentados foram alimentação e hidratação no fim da vida; família; pacientes com déficits cognitivos; comissões de bioética; violência; trabalho em equipe; registro (prontuário); síndrome de esgotamento profissional; condições de trabalho e qualidade da assistência; e rede de serviços.
No tema alimentação e hidratação, os profissionais lembraram que é importante que as equipes de saúde considerem o significado social da alimentação – a reunião de pessoas queridas em torno de uma mesa e o afeto que circunda o momento das refeições. Pensando nisso, os profissionais de saúde conseguem entender mais profundamente a resistência das famílias quando a recomendação é retirar uma sonda de um paciente em final de vida porque ela já não traz mais benefícios. Da mesma maneira, o paciente precisa ser ouvido e, sempre que possível, atendido com o alimento que ele tem vontade de ingerir. E, como para qualquer procedimento, também nos recursos para alimentação, é preciso conhecer bem o prognóstico para avaliar se haverá vantagens em adotar meios invasivos para alimentação. Em relação à hidratação, o grupo sugeriu que as equipes considerem o uso de espessante para os pacientes com risco de engasgo ou disfagia.
Em relação ao cuidado com a família dos pacientes, o segundo grupo a se apresentar sugeriu que as equipes de cuidados paliativos dediquem tempo a conhecer a dinâmica familiar e sua biografia, que escutem sempre as expectativas em relação aos cuidados e tratamentos com o familiar doente e que sejam reconhecidas as potencialidades e as limitações de ambos os lados. Um trabalho citado como difícil de ser realizado é o acompanhamento do luto familiar pós-morte – além da dificuldade da equipe em dedicar-se a isso, há também uma pouca aderência das famílias em aceitar esse acompanhamento, conforme relataram profissionais do Hospital Premier, que desenvolve essa atividade pós-morte de seus pacientes.
O terceiro grupo discutiu o atendimento a pacientes com déficit cognitivo, cuja primeira dificuldade é a abordagem. Acolhimento com empatia foi a solução encontrada pelos participantes do debate, incluindo o resgate histórico do paciente, com sua biografia, e estabelecimento de vínculos. Foi ressaltada a importância de a equipe de saúde entender que o paciente e seus familiares, por vezes, estabelecem um vínculo afetivo maior com uma pessoa da equipe e, por isso, esse profissional pode ser o responsável pelo elo que fará a diferença nos cuidados. Acolher com empatia também significa para o profissional entender que o tempo do paciente com déficit cognitivo pode ser diferente do tempo cronológico – compreensão de que em um momento o paciente pode estar bem e, em outro, demonstrando confusão mental.
O grupo que abordou as Comissões de Bioética e a relação dessas no processo de tomada de decisão trouxe, como contribuição principal, que esse tipo de instância seja ainda mais abrangente – uma comissão de bio-psico-sócio-espiritual-ética para tratamento do ser humano em cuidados paliativos.
O tema violência foi tratado de forma lúdica pelo grupo que o apresentou, com encenações de violências pouco óbvias no dia a dia dos cuidados aos pacientes. Como, por exemplo, da equipe de enfermagem que manipula o seu paciente sem olhá-lo, conversando entre si; ou mesmo do filho que não permite que o pai se manifeste em uma consulta médica, concentrando em si mesmo as informações e tirando o direito de expressão do pai. Assim, o grupo concluiu que o desrespeito ao ser humano como alguém com biografia e presença também é uma violência que acontece no âmbito dos cuidados de saúde.
A discussão sobre trabalho em equipe destacou a importância da interdisciplinaridade como essencial para os cuidados do paciente e o investimento a ser feito em comunicação, para que o trabalho flua e os profissionais entendam o ponto de vista um do outro.
O tema registro (documentação e prontuário) foi discutido pelo grupo 7, que destacou a importância de que os profissionais invistam tempo no registro de suas atividades, percepções e conversas com a família no prontuário do paciente, bem como os dados biográficos deste. Destacou-se também a importância na leitura frequente deste documento que traz o histórico do paciente, para que os cuidados aconteçam de forma contínua e eficiente.
As redes de serviço versus a continuidade da assistência foi outro tema que trouxe as dificuldades de um trabalho contínuo em cuidados paliativos na rede de saúde. Foi mostrado como o trabalho é feito de forma descentralizada, sem articulação entre os serviços. A mudança, conforme apresentada pelo grupo, só virá com a união dos profissionais e o investimento em educação e formação de outros.
Sobre síndrome de esgotamento profissional – o burnout – o grupo defendeu a ideia de que a equipe de saúde esteja mais alerta para os sinais do problema em seus colegas, assim como a necessidade de divulgar o tema, inclusive para as equipes de medicina do trabalho.
Por último, foi apresentado o tema “Condições de trabalho e qualidade da assistência”. O grupo concluiu que a estrutura física do local de trabalho tem relação direta com a qualidade da assistência e com as relações interpessoais, influenciando, dessa forma, na humanização.
Todos os grupos, portanto, trouxeram contribuições importantes a respeito de seus temas, e estas serão compiladas e estarão à disposição de todos os participantes do Congresso a fim de que possam usá-las em suas práticas diárias em cuidados paliativos.
Além da abordagem técnica dada a cada um dos temas, todos os grupos reforçaram a importância do apoio e da comunicação entre equipe de saúde, familiares e pacientes, bem como do respeito à história de cada um desses na tomada de decisões.
O médico Davi Braga Junior, do Grupo Mais, foi um dos mediadores de grupo e reforçou que a maior arma para quem atua em cuidados paliativos é a educação. “Precisamos ensinar outros profissionais, informar pacientes e familiares para empoderá-los sobre seus direitos a cuidados. Nosso objetivo é grande, é cuidar do paciente”, afirmou.
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